O caso do acordo suspeito entre a Ferrari e a FIA
Por: Aline Mariño.
(Fox Sports) |
No fim da tarde do último dia de testes da pré-temporada da Fórmula
A FIA, ou a Federação Internacional do
Automóvel, é uma entidade criada para representar e gerenciar os interesses dos
esportes a motor, assim como inspecionar e regulamentar as principais
diretrizes das várias categorias que estão sob sua tutela. Desse modo, sempre
que há uma irregularidade, cabe a ela investigar e punir, caso seja necessário,
quando o seu regulamente (técnico ou esportivo) for desrespeitado.
Dá segunda metade de 2019 para cá,
a FIA passou meses inspecionando o motor da Scuderia Ferrari, sob acusações diretas
e indiretas dos outros times, quanto a um possível uso ilegal do motor, visto
que a equipe apresentava rendimento muito à cima da média em relação as suas
concorrentes e até mesmo ao que vinha mostrando no início do campeonato nesse
setor do carro. A partir dai algumas coisas começaram a ficar nebulosas.
A partir do GP de Singapura, quando
a Federação instalou um segundo sensor dentro do motor da Ferrari, a equipe
diminuiu consideravelmente de rendimento quando analisados os dados de
velocidade em retas. Ou seja, esse impulso a mais que se via nos carros
vermelhos desapareceu e a equipe voltou a padrões no mínimo equiparáveis com a
Mercedes em trechos retilíneos. Questões mecânicas a parte, essa diminuição
repentina de rendimento deixou um cheiro no ar de algo ilegal acontecendo e depois
de Singapura a Ferrari não voltou a vencer.
Voltando ao novo comunicado
recente, foi divulgado pela federação que as investigações quanto à legalidade
do motor chegaram ao fim e que todos os detalhes ficariam sobre sigilo entre as
partes, ou seja, secreto. A equipe não sofreria qualquer tipo de punição mais
aparente e nenhuma resolução quanto ao motor foi divulgada, nada além do que
anteriormente estava sendo dito pela entidade. Essa medida claramente carente
de transparência e maiores explicações chocou o mundo da Fórmula 1 e gerou
reações que vão render muitas manchetes ainda.
Todo o modo como a FIA conduziu o
processo de averiguação dos motores e a queda súbita da Ferrari dão a entender
um pouco que houve sim algo minimamente ilegal ou fora do regulamento. E isso
acarretaria punições mais severas à equipe como até perda dos pontos no
campeonato e consequentemente redução dos prêmios em dinheiro. É interessante
observar aqui que a equipe italiana foi a primeira a sinalizar apoio ao novo
regulamento da FIA para 2021, o que deu mais poder e “moral” por assim dizer a
entidade para negociar os seus interesses restantes quanto ao futuro da
categoria. E não podemos esquecer o longo histórico de favorecimento que a
Ferrari tem com a entidade que regula o esporte a motor.
(Up Ferrari 2019/Photo: Autoracing) |
Como reação, todas as equipes do grid que não possuem ligação com a Ferrari - são McLaren, Renault, Mercedes, Williams, Red Bull, Alpha Tauri e Racing Point – divulgaram um documentos assinado exigindo que as diretrizes desse acordo venham a público. Caso a história não fique mais bem explicada, as equipes ainda cogitam recorrer a um tribunal para resolverem a questão.
Tem grandíssimas chances de isso
tudo ser uma grande “passada de pano” da Federação para o caso Ferrari. Me fez lembrar do escândalo recente na MLB nos EUA em que a liga fingiu não ver até
onde não deu mais a trapaça dos sinais previamente manjados dos Astros contra
rivais, apesar de serem situações diferentes. A forma como a FIA soltou esse comunicado foi também bem duvidosa, bem ao finalzinho do último dia de testes, como se quisesse que as análises e discussões a cerca dos novos carros eclipsassem a notícia.
Recorrentemente as ligas e
entidades esportivas encobrem ou fingem não ver irregularidades que mancham a
seriedade e a integridade do esporte. A Fórmula 1 já passou por muitos momentos
embaraçosos como esses e se a ideia era repaginar a principal categoria do
automobilismo mundial com o novo regulamento e a nova cara que a Liberty Media quer
dar, prosseguir com atitudes que sujam as instituições que a dirigem é o maior
balde de água fria que pode haver.
Apesar do medo até que ponto as coisas
chegariam, a FIA deve explicação às outras equipes e aos fãs. Esse acordo tem
que ser aberto e a coisa toda tem que ser esclarecida.
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