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Fórmula 1 sustentável? Será só imagem ou ponto crucial para o futuro?

Por: Aline Mariño


*Este texto foi escrito e publicado originalmente para a página da jornalista Julianne Cerasoli, em que ela abriu um espaço em seu site entre dezembro de 2019 e Janeiro de 2020 para selecionar e publicar doze textos sobre Fórmula 1 enviados a ela. Agradeço muito a ela por ter gostado e pela oportunidade. 

A Fórmula 1 estabeleceu metas e planos para uma das suas próximas ambições: Tornar o esporte menos poluente. A intenção é até o ano de 2030 reduzir as emissões de carbono para zero, eliminando os poluentes produzidos nos carros e nas atividades ao redor das pistas. Um dos dirigentes da F1 Chase Carey disse que essa é a primeira vez que o esporte tem uma estratégia de sustentabilidade.

Essa estratégia consiste em desenvolver um motor híbrido de combustão interna com produção de carbono zero, que funcione a partir de biocombustíveis pesquisados e desenvolvidos para poluírem menos. Nesse aspecto, o fim repentino e sem justificativa plausível para a parceria da Petrobras com a McLaren, promovido pelo atual governo, fecha as portas de uma ótima oportunidade para o Brasil estar entre esses desenvolvedores. Falta de visão, no mínimo, para não dizer outras coisas. Seguindo o plano da Liberty Media que administra a F1, a segunda parte do plano consiste em focar nas questões ao redor e fora das pistas, ou seja, respectivamente na logística entorno de cada Grande Prêmio e nos transportes envolvendo todo o circo da F1.

A grande maior parte da emissão de carbono vem exatamente desses dois últimos segmentos e não do próprio carro de corrida. Na verdade é pífia a porcentagem que a máquina produz em relação aos outros processos. No entanto para um grupo de pessoas a imagem que fica é a de que a Fórmula 1 com seus carros com motor movidos a hidrocarbonetos são um retrato do atraso. O interessante é que a categoria sempre ignorou qualquer ação nessa direção mais sustentável. Então, convém analisar mais a fundo esse recente movimento.

O impulso dado nessa direção menos agressiva ao meio ambiente ocorreu em meio às seguintes circunstâncias: primeiro cenário é que o mercado automobilístico na Europa como um todo está mudando. Um após o outro, vários países do velho continente estão votando e aprovando medidas para que nas próximas duas décadas não haja mais carros que não sejam movidos por fontes limpas. É uma tendência europeia, mas até virar uma realidade global são outros quinhentos. O segundo cenário é a Formula E recebendo os holofotes oriundos dessa onda mais consciente e é ai que dói mais o calo da F1.





Hoje a principal categoria de automobilismo tem seu grid formado somente por dez equipes, das quais apenas três também são fornecedoras de motores, e passa por dificuldades para encontrar outras equipes que se interessem por fazer parte do seu universo. Já a FE em seu sexto ano de campeonato vai iniciar o próximo ano com doze times e com potencial para seguir expandindo esse número. As equipes estarem mais interessadas pela FE não é só devido a um custo bem mais reduzido em relação a F1, o que também é, mas é também uma jogada de marketing e um alinhamento das marcas a tendência do mercado de “ser mais verde” e serem bem vistos aos olhos de uma parcela do público.

A Fórmula 1 está em um momento de certa fragilidade, já que conta com poucas opções de equipes, sendo ainda recorrentemente assombrada pela incerteza quanto à permanência de algumas delas. Certas marcas até estudaram se juntar a F1, mas optaram pela FE pelos argumentos expostos anteriormente de terem menos custos e o alinhamento com o segmento mais sustentável. O novo regulamento de 2021 virá para ajudar a reduzir custos e igualar um pouco as coisas dentro da pista. Isso tornaria mais agradável as variáveis financeiras para atrair novas montadoras, mas ainda não causaria nenhum impacto à imagem da F1 quanto à questão da sustentabilidade.

Está no DNA da F1 ser uma categoria de experimentações e testes de novas tecnologias para depois vê-las aplicadas no dia a dia, logo, embarcar nessa “onda verde” pode não ser apenas um passo na direção certa em termos de imagem, mas apostaria ser um ponto crucial para a sobrevivência em longo prazo (juntamente é claro com o advento do novo regulamento). Dizer que a FE irá substituir a F1 ou que ambas poderiam se fundir parece ainda uma visão bastante nebulosa, visto que a FE ainda precisa avançar quanto a sua unidade de potência e ao seu consequente descarte, dentre outras coisas. O futuro está mais para uma coexistência separada dessas duas categorias, testando e desenvolvendo suas peculiaridades tecnológicas, e a Fórmula 1 caminhando para o uso de biocombustíveis menos poluentes possíveis e com a meta de criar a nova unidade de potência prometida pela Liberty Media.

Discordando da fala do Greg Maffei, dirigente da F1, que afirmou segundo o site RaceFans ser puramente questão de estar na moda a ocorrência da popularidade dos carros à energia, o sucesso e crescimento do grid da Fórmula E provam o contrário disso, assim como as medidas aprovadas pela Europa. Quanto a Fórmula 1, resta esperar o prazo para ver se toda essa mudança prometida sairá realmente do papel com ações claras (coisa que até o momento não aconteceu) ou só serviu para dar um breve retoque na imagem da principal categoria do automobilismo.

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